segunda-feira, 14 de julho de 2008

Marina Silva deixa o Ministério do Meio Ambiente

Ministra pede afastamento. A causa é desgaste na gestão

-Trajetória política

Maria Osmarina Silva de Souza Vaz de Lima, que adotou o nome de Marina Silva, nasceu em 8 de fevereiro de 1958, no Seringal Bagaço (Acre).

Órfã de mãe aos 16, mudou-se para Rio Branco, em 1974, a fim de se tratar de uma hepatite e, posteriormente, realizar supletivo para concluir o ensino médio e cursar o ensino superior. Já que em Seringal Bagaço, a 70 km de Rio Branco, onde nasceu, não havia escolas.

Marina Silva trocou o sonho de ser freira pela militância política, na ocasião em que começou a atuar nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ligadas principalmente à Igreja Católica que, incentivadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), se espalharam principalmente nos anos 70 e 80 no Brasil, durante a luta contra a ditadura militar.

Marina formou-se em História pela Universidade Federal do Acre, em 1985 aos 26 anos, data em que também se filiou ao PT (Partido dos Trabalhadores) e lançou sua candidatura para ajudar o líder seringueiro, sindicalista e ativista ambiental Chico Mendes, morto em 1988, que era candidato a deputado estadual. Apesar de ambos estarem entre os cinco mais votados nenhum dos dois se elegeram.

Durante os estudos na universidade, ingressou no Partido Revolucionário Comunista (PRC), organização semi-clandestina que fazia oposição ao regime militar. Em 1984, junto com Chico Mendes, Marina Silva funda a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.

Após concluir o ensino superior, Marina Silva começou a lecionar história e a participar do movimento sindical dos professores. Em 1988, foi eleita vereadora mais votada de Rio Branco, capital do seu estado.

Após dois anos, foi eleita deputada estadual, novamente a mais votada. Em 1994, aos 35 anos, chegou ao Senado Federal como a mais jovem senadora do Brasil, sendo reeleita em 2002. Finalmente, em 2003, é nomeada ministra do Meio Ambiente pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva. Agora, em 2008, ela pediu demissão do ministério.

- Saída de Marina Silva

No dia 13 de maio de 2008, Marina Silva entrega sua carta de demissão, do cargo de Ministra de Estado do Meio Ambiente, ao presidente Lula. A ex-ministra declara:

- Deixo seu governo [Lula] com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo relacionamento, termos feito algo de relevante para o Brasil.

Com ela deixam à cúpula do ministério dois auxiliares de sua extrema confiança: Basileu Aparecido, chefe de gabinete de Marina e presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Meio Ambiente e presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.

Segundo a ex-ministra, ela vinha colecionando desafetos na Esplanada dos Ministérios e perdendo mais batalhas do que conquistou nesses quase 5 anos e meio na função. Marina Silva conta:

- Esta decisão [de deixar o cargo] decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.

Marina teve embates recentes com a colega Dilma Roussef, da Casa Civil, devido a obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a construção de duas usinas no Rio Madeira: Jirau e Santo Antônio. A ex-ministra se viu pressionada por Dilma para liberar licenças ambientais favoráveis à edificação das hidrelétricas, mas ela se mostrou contra a implementação destas em solo amazônico.

Ela também bateu de frente com Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, que defendia a autorização da produção de transgênicos. Marina combate a liberação de milho e soja geneticamente modificados, mas se viu derrotada na reunião para liberar o plantio e comércio destes logo no início do governo.

O desgaste também se deu com o Agronegócio e com Reinhold Stephanes, atual ministro da Agricultura, que discordava de Marina sobre transgênicos e batia de frente com o ministério por não aceitar o diagnóstico de que o agronegócio era responsável pelo avanço do desmatamento.

Lula também não escapou das criticas da ex-ministra, acerca da produção de etanol. Apesar do entusiasmo do presidente com os biocombustíveis, Marina teme o avanço da cana sobre a lavoura de alimentos e áreas de preservação ambiental. Ela declarou que:

- O Brasil não quer ser a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] dos biocombustíveis. Queremos dar nossa contribuição em relação aos biocombustíveis, mas observando nossa capacidade de suporte. E de forma que não comprometa a segurança alimentar nem a questão ambiental.

Quem mais ganha com a renúncia da ministra são as obras para a transposição do Rio São Francisco: Marina exigia mais estudos ambientais para as obras, apoiadas pelo deputado Ciro Gomes (CE). Sérgio Cabral e o PMDB também ganham com essa abnegação. Apesar de o secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, ser do PV, para Cabral é mais um nome do Estado no Planalto (o outro é José Gomes Temporão, na Saúde).

O estopim para Marina pedir sua demissão foi à nomeação, pelo presidente Lula, de Mangabeira Unger, ministro da Secretaria de Ações de Longo Prazo, para coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Marina se sentiu desprestigiada pelo presidente por não ser a responsável por chefiar o conselho gestor do PAS, que teria como prioridade garantir a proteção ambiental da região amazônica.

Marina Silva retorna ao Senado no lugar de Sibá Machado, também do PT do Acre, para reassumir o mandato que termina em 1º de janeiro de 2011. Ela também passou a ser, no dia 08 de junho, colunista do jornal Folha de S. Paulo.

-Comunidade Internacional

Durante mais de 5 anos, a senadora Marina Silva angariou prestígio frente a comunidade internacional. Assim seu pedido de afastamento do cargo de ministra denota um forte impacto para o governo Lula no que tange a preservação ambiental ao olhar estrangeiro.

Scott Paul, diretor do programa de florestas do Greenpeace avalia que “do ponto de vista internacional, a demissão de Marina do ministério é muito preocupante e prejudica a credibilidade do governo Lula na questão da defesa do meio ambiente”. “A demissão simboliza que o governo não vai mais dar prioridade para a agenda ambiental no País.”

Para o jornalista e editor do site O Eco, Marcos Sá Corrêa, o afastamento de Marina não será tão nebuloso, já que “ela já estava meio fora da equipe”. No entanto, é longe do Brasil, no exterior, que Marina Silva fará falta. “Sem ela, o presidente Lula perde a última ficha para freqüentar mesas de quem aposta no futuro da floresta.”

“A notícia caiu como uma bomba. Ter uma pessoa como a Marina era ter fiador do processo. Estamos preocupados que isso vire para o lado do “liberou geral”, porque é isso, no fundo, o que se pensa no governo” afirma Mário Mantovani, diretor da Ong SOS Mata Atlântica.

O portal de rádio britânico BBC, destacou o fato de Marina ter deixado o cargo como uma postura crítica ao governo. A rádio declara que sua saída tende a aumentar a “percepção de que o presidente Lula está mais preocupado com o desenvolvimento econômico do que com a conservação [ambiental]”.

É do lado de fora que a saída de Marina causará maior impacto para a imagem externa do governo Lula. Ambientalistas a consideram a avalista da seriedade do País no setor. O governo terá que tomar medidas ousadas para provar que continua comprometido com a questão ambiental, pois com Marina o desmatamento caiu 60% em 3 anos.

Escrito dia 18/06

2 comentários:

Anônimo disse...

E lá vem o geógrafo Carlos Minc para aperfeiçoar e melhorar o trabalha da Marina!

Abraço!

Anônimo disse...

trabalho*