quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Kiss é no Brasil!



Datas de shows da banda de Paul Stanley e Gene Simmons são divulgados no Brasil!


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Hora do show!




A produtora Under Br produzirá no dia 15/02 um festival para comemorar sua entrada no mercado de promoção de shows na cidade de São Paulo.

O festival ocorrerá no bar Cervejazul, Praça Ciro Pontes nº 26 próximo a Universidade São Judas, na Mooca. A principal banda do evento será a NoTime que divulgará o lançamento do seu primeiro EP, Tirar sua Paz.

As demais bandas escaladas para o evento são:

Invernoponto (divulgando o lançamento de seu EP)
Carapuça
Fall Dawn (divulgando o CD HIBRIDO)
Protozóides
Portifólius
BAVIERA
Hash Pipe
Peça Única
Lexus Nihil


Local: Bar Cervejazul (Praça Ciro Pontes, 26 - Mooca)
Preço: R$10,00 (antecipado) e R$12,00 (na porta).
Horário: A partir das 15h.
A Venda de ingressos já está disponível com as bandas.
Contato: (11) 2028-2538 (Bar) / sergio_ong@hotmail.com (Produção)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

No camarim com Blaze Bayley



No blog MetalHead, exclusivo sobre música, você pode conferir o post sobre a passagem da banda Blaze Bayley no dia 11/01, em São Paulo, no Manifesto Rock Bar.

Blaze Bayley, ex-vocalista do Iron Maiden, integra atualmente a banda de próprio nome que passa pelo Brasil promovendo o 4º álbum de estúdio "The Man Who Would Not Die". A turnê "The Tour That Will Not Die / 2009" só no Brasil consta de 11 apresentações!

Agora a entrevista da Play Tv com Blaze pode ser vista aqui:



quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quem manda na mídia brasileira





A RBS é o maior grupo de comunicação social com o controle direto de empresas. Isso acontece por meio de contratos de gaveta não fiscalizados. São dados relevantes como este que o projeto Os Donos da Mídia nos revela. Uma pesquisa de abrangência inédita, com o levantamento de 7.275 veículos de radiodifusão e a análise do oligopólio na mídia brasileira. James Görgen é o coordenador do projeto, que lança um site no mês que vem, para “tornar públicos os dados que o Estado omite”. Ele nos conta os motivos da centralização da mídia no Brasil.



Zero: Quando começou o projeto Os Donos da Mídia?

Görgen: Esse mapeamento da estrutura da comunicação no Brasil começou em 1978, mas não com a gente. O primeiro levantamento foi feito pelo que era um embrião da Intercom. Depois disso a gente começa a mapear, em 1988, as concessões que o Sarney distribuiu para garantir um ano a mais de mandato durante a constituinte. Foi o primeiro trabalho que eu e o Daniel Herz fizemos. Aí teve uma denúncia no Brasil todo, o Sarney teve que vir a público responder – ele e o Antônio Carlos Magalhães, ministro das Comunicações na época. Em 1994, a Célia [Stadnik], esposa do Daniel, fez um TCC em que a gente ajuda a montar esse esquema, com a mesma idéia, a de grupos regionais afiliados aos grandes grupos nacionais.
Isso é o Donos da Mídia. É mostrar a vinculação e como a mídia funciona de uma ponta até a outra. Em 2001, a gente começou uma terceira fase e publicou na Carta Capital o novo mapeamento. Ali se revelou que as cinco principais redes controlavam, direta ou indiretamente, 90% das emissoras de TV do Brasil. E ao mesmo tempo elas juntavam rádios e jornais, 667 veículos.


Zero: E neste ano vocês lançam o site?

Görgen: Sim, agora em 2008 entramos em uma fase nova, com o site. Lá tem todo o mapeamento de 19 mil veículos, e mais ou menos uns 2 mil deles têm vínculo de propriedade cruzada, mas muitos outros não têm. E ao mesmo tempo, metade disso é retransmissora de TV, que não conta como veículo porque não insere programação, só retransmite. Mas mesmo assim, a gente conseguiu mostrar agora que aumentou o número de veículos ligados a essas principais redes, de 667 foi pra 869. E aumentou também o número de redes.

Zero: Então a concentração aumentou?
Görgen: É a gente pode dizer assim, porque houve um maior vínculo, mas ao mesmo tempo cresceu o número de redes. Por exemplo, aumentou o número de redes religiosas desde 2001. A gente tem 33 redes de TV no país e 21 redes de rádio, com abrangência nacional, isso dá 54 redes. E uma pequena parte disso tem essa relação com afiliação, com o resto, a própria rede controla tudo, raramente tem um associado regional. Ou entra por satélite, ou entra por retransmissora, por exemplo, a Rede Vida opera a estrutura no Brasil todo, raramente tem um associado regional. A gente conta tudo isso, mas o interesse é o que a gente chama de sistema central de mídia, dessas redes principais. O sistema central de mídia são os conglomerados que controlam, direta ou indiretamente, pelo menos três suportes, ao mesmo tempo – rádio, TV e jornal –, estão em mais de dois estados, no mínimo, e está vinculado a uma rede nacional. Esse conjunto de empresas formaria esse sistema central por onde flui a coluna vertebral do processo informativo brasileiro.


Reportagem na íntegra de Rafaela Mattevi você encontra no blog do Zero.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Blackwater novamente na cena dos crimes corriqueiros


Jornal O Estado de S. Paulo de 9 de dezembro de 2008.





Clique na imagem para melhor visualização.

domingo, 23 de novembro de 2008

Soldados de aluguel


Nasce em 1996 no estado norte-americano da Carolina do Norte a corporação Blackwater USA. A empresa, fundada pelo cristão fundamentalista e de extrema direita Erick Prince, é considerada a 5ª força militar dos Estados Unidos e teve sua ascensão meteórica após os atentados de 11 de setembro de 2001 com a conseqüente “guerra ao terror” com a ocupação do Iraque e do Afeganistão.

A Blackwater fornece ao governo de George W. Bush e a grupos empresariais do ramo petrolífero ao alimentício, segurança privada por meio do envio de soldados que, por dinheiro, protegem os interesses e as instalações dessas corporações em regiões de alto risco, como no Iraque.

Para firmar a Blackwater no “trem da alegria” dos contratos de segurança, em 2004, Paul Bremer, nas vésperas de deixar o cargo de procônsul da ocupação americana no Iraque, baixou um decreto que conferia imunidade à Blackwater por quaisquer crimes cometidos na região iraquiana, a Ordem 17.

As implicações dessa regra e a relação entre governo americano e o mundo corrupto e sombrio dos prestadores de serviços militares no Iraque são os elementos que dão gás ao jornalismo investigativo de Blackwater – A Ascensão do Exército Mercenário Mais Poderoso do Mundo.

O autor é o americano Jeremy Scahill, jornalista colaborador da revista The Nation e que já atuou em coberturas internacionais no Iraque, na ex-Iugoslávia e na Nigéria. Publicado em 2007 nos EUA, o livro foi atualizado neste ano para abranger a história e a repercussão do massacre cometido na capital do Iraque, em Bagdá, pelos soldados de aluguel da Blackwater, no dia 16 de setembro de 2007.

Scahill não economiza nos detalhes deprimentes e inacreditáveis ao descrever os dezessete civis iraquianos assassinados pela Blackwater na praça Nisour, na capital iraquiana. Colhendo dados de testemunhas sobreviventes do episódio e em paralelo com as investigações do FBI, as alegações da Blackwater de que suas forças foram “atacadas com violência” e que “agiu apropriadamente e de acordo com a lei ao defender com heroísmo vidas americanas numa zona de guerra” vieram por água abaixo.

Os mercenários da Blackwater não tiveram um motivo consistente para metralhar aquelas pessoas na praça, muito menos haviam sido atacados. No entanto, foram inocentados e acobertados pelo Departamento de Estado americano, que protegeu a Blackwater, empresa que já adquiriu em contratos de segurança no Iraque 1 bilhão de dólares, sem licitação pública.

Scahill traz, em toda a extensão de sua obra, sinais suficientes para convencer que são corriqueiros os abusos cometidos pelos soldados privados para proteger altos funcionários do governo e corporações “amigas”, cristãs e republicanas não só no Iraque como em qualquer região do mundo que haja um conflito lucrativo.

Uma lei aprovada recentemente prevê que os mercenários podem responder nos tribunais dos EUA por crimes empreendidos no Iraque. Para isso, é necessária uma investigação do FBI que ao ir ao Oriente Médio colher as provas precisa da escolta da Blackwater ou de outras empresas do ramo. Assim, gera um conflito de interesses que é o ponto fundamental da obra: a dependência do governo americano para com os soldados privados no Iraque chega a tal ponto que não se consegue, ou mesmo não se quer, exercer um controle coercitivo dessas forças, que abrem um novo marco na história da guerra moderna.

Resenha publicada na edição 55, mês de outubro pág.22, do jornal-laboratório da PUC - SP, Contraponto.

domingo, 2 de novembro de 2008

De administrador para jornalista


Thiago Ney, repórter do caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, esteve no dia 27 de outubro, às 21h 30min, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para um debate com os alunos do primeiro ano, do curso de jornalismo. Neste bate-papo, Ney contou não só sobre sua trajetória no campo do jornalismo musical como também suas emoções, decepções e conflitos no jornalismo, além de explicar a relação jornalista-ídolo e o papel desempenhado pela internet na disseminação de conteúdos musicais.

PUC/SP – Como foi sua trajetória na carreira jornalística?
Thiago Ney -
Na verdade eu não sou formado em jornalismo, mas sim em administração de empresas pela PUC/SP mesmo, curso que, aliás, eu não indico.
Comecei a trabalhar com jornalismo por acaso. Recebi um convite para fazer um “freela” temporário e fiquei de dois a três meses no banco de dados da Folha. Quando eu fiquei nesse banco surgiu uma vaga para trabalhar nos Diários Associados, na área de esportes, fiquei dois meses e recebi convite em 1997 para entrar na editoria de cidades. Depois disso, peguei uma licença de seis meses e fui para Londres, Inglaterra. Nessa época eu estava no Notícias Populares e resolveram acabar com o jornal. Aí, em 2001 voltei a trabalhar na Folha como redator do caderno Ilustrada, e mais tarde passei a repórter.

PUC/SP – Quais foram os empecilhos profissionais que o sr. passou pelo fato de não ter feito jornalismo?
Thiago Ney
– No começo era complicado. A Folha é um dos poucos veículos comunicacionais que aceitam funcionários sem diploma. Deixei de ir para vários lugares porque não era formado na área. Nos Estados Unidos não existe faculdade de jornalismo, só pós. Se você quer ser jornalista de economia, você faz economia, se quer ser da área de política você faz sociologia, ciências sociais e por aí vai.

PUC/SP – Como foi a sua transição da editoria de esporte para cidades e do Notícias Populares para a Folha de S. Paulo?
Thiago Ney –
Você entra em esportes e pinta uma vaga em cidades se você se interessar vai, a mudança é tranqüila. Depende muito do que você gosta, e na mudança você acaba pegando as manhas de cada editoria, vai aprendendo a pesquisar as fontes daquela área para as suas matérias. Bem o mal você vai ter que se virar.

PUC/SP – Como o sr. conseguiu trabalhar no Notícias Populares, que foi um jornal que chegou a trazer na capa a imagem sensacionalista do cantor Rafael Ilha, do grupo Polegar, com uma pilha no estômago em detrimento de notícias relevantes para a sociedade?
Thiago Ney
– Bom, o jornal era destinado a classes C e D. Ele não tentava ser sensacionalista, mostrava o que ocorria na sociedade. A cobertura era muito forte do quesito policial, nas áreas do Capão Redondo, um jornalista amigo meu chegou até levar tiros com os policiais. [respondido com nervosismo]

PUC/SP – Certo, mas e a questão ética ao produzir capas tão peculiares, até mesmo bizarras?
Thiago Ney –
Não tem questão ética, estávamos mostrando a situação para as pessoas, evidenciando o que as drogas, no caso de Rafael Ilha, podem fazer com um ser humano. Ele era uma figura pública, saía no jornal não só seus feitos como músico, mas também se pisasse na bola sairia nos jornais e foi o que aconteceu.

PUC/SP – Mudando de assunto, como é a cobertura brasileira no cenário musical e o papel desempenhado pelo veículo?
Thiago Ney –
Você acaba fazendo o que pode na cobertura. Um jornalista gringo tem duas a três horas para fazer a reportagem. A gente tem entre 10 a 20 minutos, ainda por telefone. Aqui você tem muita limitação e também não é tão crítica quanto deveria ser.
Esse tipo de jornalismo funciona como filtro para muita coisa que sai. Só o que vale a pena nós divulgamos. E o legal é ver um texto que declare a sua opinião sobre determinada banda/show/musical/peça e não aquele texto burocrático. Isso é o que o leitor espera com tanta música bombando no cenário musical.

PUC/SP – O sr. acha que a revista mais importante e viva desse cenário seria a Rolling Stones?
Thiago Ney –
Ela não é aquela coisa. Há 15 anos você tinha 200 revistas musicais na Inglaterra, agora muitas acabaram. Você acessa tudo via internet.

PUC/SP – O My Space seria o grande disseminador dessa realidade?
Thiago Ney –
Sim, e isso era inevitável e foi bem legal. O acesso que isso dá a sua banda e ao público é bem legal. O problema é que você acaba domesticado, pois só pode ouvir aquilo que está lá, mas tem o seu valor. É muito melhor do que esperar meses até chegar o álbum e pagar caro.

PUC/SP – Como é tratada a questão de autonomia profissional na Folha?
Thiago Ney –
Na Folha temos liberdade para trabalhar. Eu sugiro as pautas, faço e não me restringem. Mas às vezes a matéria não fica tão bem apurada e então eles mudam alguma coisa, mas não é questão de censura.

PUC/SP – Como é a sua rotina como repórter da Folha?
Thiago Ney –
Os redatores trabalham todos os dias, têm cinco na Ilustrada. Eles chegam às 10h 30min, pegam os textos corrigem e enquadram. A presença deles na redação é indispensável. Já o repórter não, às vezes nem tem matéria para aquele dia. Eu chego às 9h, mas também posso entrar às 10h, 11h. Tento escrever a matéria um dia antes de sair. Não tem uma rotina, você sai colhendo os dados da sua reportagem, vai fazendo de acordo com o que aparece.

PUC/SP – Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira, o que mais te agrada no jornalismo e como é a relação jornalista-ídolo?
Thiago Ney –
Duas matérias minhas no Notícias Populares sobre a favela Heliópolis que fiz com outro repórter foi bem marcante, a repercussão foi bem legal. Outras reportagens que fiz sobre detentos e seita satânica uma vez me marcaram também. E claro, quando entrei na Folha, sempre quis trabalhar lá, fiz matérias importantes, a cobertura das Olimpíadas também foi muito bom.
O que eu mais gosto da carreira é a falta de rotina, sem dúvidas. Você não tem aquele horário fixo das 9h às 18h que você não pode se atrasar. Outro ponto que gosto bastante é a liberdade que tenho para escrever o que gosto.
Na relação jornalistas e famosos, o pior é você entrevistar quem você não gosta, aí você vai obrigado, é ruim. Mas você acaba se acostumando, o mesmo vale para quando é um ídolo que você admira muito e vai entrevistá-lo. Vale para o jornalista de esportes que tem que entrevistar o Rogério Ceni [goleiro do São Paulo Futebol Clube].
Eu já entrevistei caras que curto muito como Noel Gallagher do Oasis foi muito legal.
Um fato curioso foi quando entrevistei o 50 Cent, a entrevista durou 20 minutos e o gravador que eu estava usando não tinha gravado nada, a fita enroscou. Sorte minha que uma câmera de TV colombiana que, por acaso estava filmando a minha entrevista, enviou gentilmente por correio a gravação e pude recuperar a entrevista. Foi o maior sufoco!
Além disso, tive o privilégio de cobrir grandes shows que me marcaram que foi o do Nirvana aqui em São Paulo. Outra entrevista legal que fiz foi com Jack White do White Stripes.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Disparidades no Cáucaso reacendem duelo territorial e midiático


Governo russo ganha batalha de campo contra a Geórgia, mas perde a disputa publicitária pela opinião pública.

Adriana Farias
Natália Senóbio

Enquanto o mundo assistia à abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim, na China, aos 53 minutos da madrugada de 8 de agosto a Geórgia, a fim de retomar o controle da província separatista da Ossétia do Sul, cercava e submetia a forte bombardeio a capital sul-ossetiana, Tskinvali, na região do Cáucaso.

Foi direto de Pequim que Vladimir Putin, primeiro ministro da Rússia, ordenou a rápida e previsível retaliação. Aviões, tanques e blindados russos invadiram a Geórgia, ex-república soviética pró-ocidente, em apoio à região separatista da Ossétia do Sul, onde 70 mil ossétios, dos quais 56 mil possuem cidadania russa, lutam desde os anos 90 por sua autonomia.

O governo georgiano ao tentar restabelecer a integridade territorial de seu país não calculou, porém, a dura retaliação da Rússia. No entanto, contava com a simpatia e aliança dos Estados Unidos para se lançar nessa aventura militar, já que a Geórgia, além de enviar 2 mil soldados ao Iraque em apoio a George W. Bush, mostrou interesse em ingressar na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criada em 1949 com o objetivo de impedir um avanço soviético na Europa.



Contudo, no decorrer do conflito, os EUA e seus aliados na Europa Ocidental não ousaram em oferecer mais do que o apoio moral aos seus amigos georgianos.

Segundo o geógrafo Nelson Bacic Olic, o auxílio estadunidense não veio porque “os norte-americanos estão em uma situação desfavorável depois da aventura no Iraque. A economia não vai bem principalmente agora no fim do governo desastroso de Bush. Enquanto isso, a Rússia está subindo. Se fosse na década de 90, ela iria se redimir, pois os EUA estavam no topo e os russos em decadência. Assim se percebe claramente que as condições de dez anos atrás dariam aos EUA certa mobilidade de colocar ordem nessa região. Hoje, aparentemente, eles não têm essa possibilidade devido as suas próprias contradições e problemas.”


A aliança com os EUA mostrou que não há garantia de proteção incondicional para a Geórgia dentro da esfera de influência russa, a grande herdeira da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), que tem laços estremecidos com o Ocidente.

Tais relações abaladas possuem ligações diretas com a independência de Kosovo, ex-província separatista da Sérvia que, em fevereiro, estabeleceu um precedente para que o movimento se repetisse em outras regiões rebeladas. O recente país, ainda não reconhecido pela comunidade internacional, se desvinculou do governo sérvio com auxílio dos EUA em detrimento da Rússia, que foi contra o levante.

Outra razão para as disparidades no Cáucaso é a tentativa de minimizar o controle russo nas regiões das ex-repúblicas soviéticas. O Azerbaijão é uma grande área de produção de petróleo. Na antiga URSS o seu oleoduto passava pela Chechênia e com a dissolução soviética o país, a fim de se libertar da influência russa, construiu o oleoduto Bacu-Tbilisi-Ceyhan (BTC), fato que indispôs o governo da Rússia.

O confronto cessou após um acordo de paz mediado pela União Européia (UE), mas a tensão persiste. A Rússia, ao reconhecer a independência da Ossétia do Sul, querendo sua anexação, e da Abkházia, mostrou que é um elemento importante dentro do cenário da política internacional. “Isso abre um precedente para o bem e o mal da Rússia. O lado bom é que eles se consideram presentes e fazem o que bem entenderem nessa região, independentemente da vontade da UE e dos EUA. O lado ruim é que a mesma justificativa utilizada com a Ossétia, a Chechênia [república separatista russa] pode usar para conseguir a sua independência”, comenta Bacic Olic.

Duelo na mídia

Nos combates terrestres, durante o conflito na região do Cáucaso, a Rússia expôs ao mundo que ainda é uma superpotência armamentista e que pretende continuar disseminando sua influência na antiga esfera soviética. Apesar da vitória no campo de batalha, o Kremlin (sede do comando russo e da extinta União Soviética) não conseguiu vencer o governo da Geórgia na disputa publicitária a fim de conquistar a opinião pública nacional e internacional. O curso constante de informações controversas e mal explicadas divulgadas por ambos os governos tem inundado os veículos comunicacionais.

A Rússia quer convencer o mundo de seu papel como intervencionista contra um governo insensato do presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, cujas forças foram responsáveis pela limpeza étnica contra o povo da Ossétia do Sul. A Geórgia, por sua vez, se descreve como um pequeno país lutando contra a grande potência russa e que sofre uma injusta punição do Kremlin devido às suas aspirações de se tornar uma democracia ocidental e aliada da OTAN.

Diante dessas manobras, as informações do conflito proferidas pelos agentes de relações públicas do governo russo e georgiano são recicladas pelas grandes agências internacionais ocidentais, principalmente as estadunidenses, que defendem os pontos de vista de seus países de origem e acabam por servir de referência aos meios de comunicação brasileiros.

“A imprensa brasileira é muito alinhada com os EUA, mesmo a Reuters é mais norte-americana que inglesa. Os jornais de referência para a mídia nacional são o The New York Times, Washington Post e na tevê é a CNN e a Fox. Tudo isso leva a mídia do país a um viés: achar que a Rússia invadiu a Geórgia. Quem violou a paz não foram os russos, foram os georgianos. Mas o primeiro passo não teve tanta repercussão. Só virou notícia quando foi o contrário. A imprensa brasileira compra a versão americana. Com o tempo, as coisas foram clareando na própria mídia nacional, mas não foi produzido de forma muito equilibrada”, enfatiza Igor Fuser, docente do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.

Diante dessas influências, é complicado ter um olhar brasileiro sobre o conflito. “A solução seria ter uma política de estado no sentido da democratização dos meios de comunicação, ou seja, de não ter o monopólio da informação no país como temos hoje, em que 99% das notícias que chegam até o grande público é filtrada por 5 ou 6 grandes grupos econômicos. Hoje você não recebe nenhuma informação que não passe pela Rede Globo, Folha, Estadão e editora Abril. Esses grupos controlam tudo o que chega até a população. Então, o monopólio da mídia induz pontos de vista: direciona a interpretação sobre o que acontece no mundo e no Brasil”, conclui Fuser.

Em entrevista ao jornal Correio Brazilense (DF), Anna Arutunyan, jornalista do portal de notícias The Moscow News, avalia que no geral a cobertura ocidental do conflito foi um pouco tendenciosa. “Do mesmo modo achei tendenciosas diversas notícias publicadas por veículos de comunicação russos. O fato é que a região do confronto ainda é muito desconhecida. Há poucas informações sobre a Geórgia, por exemplo, e diversos jornais começaram a publicar informações equivocadas. Não faziam idéia da veracidade dos fatos, apenas relatavam o que ‘supostas testemunhas’ presenciaram”. Isso se intensificou devido às más condições de trabalho dos profissionais.


As autoridades russas deram aos jornalistas ocidentais pouco ou nenhum acesso às aldeias que foram saqueadas e queimadas nas regiões sob controle russo na Ossétia do Sul e norte da Geórgia, o que torna praticamente impossível calcular a contagem final da violência na região e fazer uma cobertura mais correta dos fatos. Já os jornalistas russos puderam se movimentar livremente pela região e apurar melhor os acontecimentos, mas não conseguiram produzir notícias independentes. Eles freqüentemente praticavam a autocensura, por medo e receio da represália russa e georgiana.



Reportagem publicada na edição 54, mês de setembro pág.24, do jornal-laboratório da PUC - SP, Contraponto.


sábado, 11 de outubro de 2008

Maria Inês Nassif na PUC/SP


A jornalista Maria Inês Nassif, irmã de Luis Nassif, comentarista econômico da TV Cultura, é editora de Opinião do jornal O Valor Econômico e esteve no dia 6 de outubro, às 21h 30min, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para um debate com os alunos do primeiro ano, do curso de jornalismo. Neste bate-papo, Maria Inês falou, entre outros fatos, sobre sua trajetória profissional no campo da política e da economia. Contou suas emoções, decepções e conflitos no jornalismo, além de explicar o sentido de ser jornalista no século XXI.

PUC/SP - Conte-nos um pouco sobre seu rumo profissional?
Maria Inês Nassif - Eu morei um bom tempo em Brasília. Trabalhei na agência Dinheiro Vivo, nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, pena que hoje ele esteja tão descaracterizado. Passei por todos os grandes jornais do país.

PUC/SP – Como a sra. decidiu que a sua profissão seria o jornalismo?
Maria Inês Nassif – Fiz jornalismo por causa da insistência da minha mãe, o que eu queria era Ciências Sociais. Mas o jornalismo acabou me conquistando muito mais pela prática do que pela universidade. Eu me formei na Cásper Líbero, o curso era terrível, fiz uma faculdade péssima. Mais tarde fiz pós-graduação em Ciências Sócias aqui na PUC.

PUC/SP – Qual a sua relação com a carreira o que mais te marcou?
Maria Inês Nassif – Eu trabalho desde os 17 anos, era freelancer do jornal estudantil “Movimento”. Peguei o final da ditadura cobrindo política, presenciei a história e nada melhor do que registra-la de forma bem feita. A sensação de trabalhar para as gerações futuras, ver a história acontecendo e registrá-la, isso marcou minha vida.

PUC/SP – Na questão sobre o jornalismo na internet, a sra. acha que o jornal impresso está perdendo espaço? Como fica, especificamente, O Valor Econômico nessa situação?
Maria Inês Nassif –
Existe o conhecimento de que a informação democrática é mais barata, engloba mais gente e que ela chega mais rápido. Também existe a noção de que a linguagem do jornal não pode ser igual a da internet. Na estrutura do Valor, ele foi o jornal que mais se aproximou dessas questões. Como é um jornal que quase não tem competidor ele prioriza informação exclusiva, mais analítica, mais trabalhada e com uma informação mais redonda. Já a informação eletrônica do Valor é muito ruim. Ele precisa melhorar muito.
Os outros jornais competem muito por clipping. Tal competição impede que eles tenham uma linguagem e visão diferenciadas e mais trabalhadas.

PUC/SP – Qual a diferença editorial do Valor para os outros jornais como o Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo?
Maria Inês Nassif – O Estadão é conservador, a Folha é mais de esquerda. O Valor é mais progressista do que a visão dos sócios, não fazem oposição militante. São editores muito equilibrados, nem no campo da economia somos tão ortodoxos. A produção é pautada pela gerencia que decide tudo. Mas é um jornal plural que não cai em histerias como publicar manchetes do tipo “Brasil é o país mais corrupto do mundo”, “Impeachment já!”. O Valor é um jornal formador de opiniões e os anunciantes entendem assim.

PUC/SP – Como foi a transição da área de política para economia?
Maria Inês Nassif – O Brasil é muito diverso. A política é síntese das realidades sociais e das instituições que surgem. Há momentos em que você sente a história acontecendo, ali. É a área que você mais experimenta a história e os atores dela estão todos lá. Também segui pela política talvez pela cientista política que sou. No Estadão entrei na política fiscal, no Dinheiro Vivo escrevia sobre macro-economia e finanças mais porque fui obrigada, já que era sócia naquela época. Acabei fazendo mestrado em política com mercado financeiro. Fiz meu estudo sobre as Eleições em 2002 de Lula mediando as pressões do mercado. Foi quando consegui dar um sentido para isso tudo.

PUC/SP – Como é escrever n’O Valor Econômico?
Maria Inês Nassif – O espaço para escrever o que quiser é sonho de todo o jornalista. Na coluna do Valor eu tenho ampla liberdade que não teria em lugar nenhum, ela me dá mais satisfação. Eu creio que quando acabar o Valor eu vou estar fora do jornalismo. E jornalismo para mim é não ter que pedir licença para escrever.

PUC/SP – O que significa ser jornalista atualmente? Que tipo de mercado vamos encontrar?
Maria Inês Nassif – Hoje vocês são mais críticos. O jornalismo é um processo: o fim da ditadura coincidiu com a transformação dos jornais. A pós-ditadura excluiu os jornalistas mais politizados, por isso eles vivem numa crise causada pela posição política dos jornais. As famílias da elite foram jogadas para a direita quando acabou a aliança com as forças democráticas. Eles optaram pelo jornalismo do emprego e do salário.

PUC/SP – A sra. já teve algum conflito ético/profissional que te abalou?
Maria Inês Nassif –
Bom, eu até tive muita sorte com isso. Já tive problemas de um cara jogar o que eu escrevi no lixo, mas não era falta de ética. Na Folha de S. Paulo quiseram editar profundamente uma matéria minha, argumentando que o lide deveria conter isso e aquilo. Acho que isso foi o mais agressivo na minha área. Aí depois eu saí de lá.

PUC/SP – Qual foi a sua maior emoção no jornalismo?
Maria Inês Nassif –
Tive emoção para ruim. Foi na época da votação direta para presidente. Governo Militar. Os jornalistas choraram muito.
Já na posse de Lula, em janeiro de 2003, foi uma emoção boa. O povo ficou do lado de fora da Esplanada dos Ministérios e eu fui cobrir aquele momento não do lado de dentro mais do lado de fora com eles. Foi contagiante, as pessoas passaram a depositar todas as suas esperanças de futuro em Lula. No seu discurso, o mais marcante foi quando ele disse: “No meu governo todas as pessoas vão tomar café da manhã, almoçar e jantar”. Naquele instante existiu uma identidade, uma emoção coletiva contagiante.
Outro momento que marcou foi à morte de Tancredo Neves [presidente do Brasil pelo Colégio Eleitoral em 1985, mas não chegou a tomar posse do cargo], que deixou um sentimento de insegurança no país.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Aula


São 20h 21 min. No momento estamos (minha sala e eu) na aula de Introdução ao Jornalismo da PUC. O professor, que chegou cinqüenta minutos atrasado, pediu para que os alunos produzissem um texto contendo diálogos sobre algum conflito ou briga recente que tivéssemos presenciado ou mesmo participado.
Como uma aluna aplicada que sou estou pensando no que escrever, mas a conversa é tanta aqui que fica difícil ter alguma concentração. Mas nem eu mesmo quero mais elaborar esse texto, não agora, estou com preguiça e saudades... saudades do meu querido. Por falar nele coitado... teve que trabalhar de madrugada para cobrir as olimpíadas, ele faz Rádio e TV e trabalha no portal Terra, na seção de tevê online. Pelo menos não é um emprego maçante, ele adora!

...

Mudando de assunto, aqui vai uma propaganda básica: minha mais nova matéria “O heavy metal pela ótica da imprensa” saiu na edição 53, pág. 24, do Contraponto, jornal-laboratório do curso de jornalismo da PUC. Para quem tiver curiosidade acesse o meu blog sobre música MetalHead, pois entre hoje e amanhã postarei a reportagem na íntegra. Tem entrevistas com o Jotabê Medeiros do Carderno 2 do Estadão, Vitão Bonesso da rádio Kiss Fm e com João Paulo de Andrade do Whiplash, site especializado em heavy metal e rock and roll.

Bom, a aula já está terminando e o meu texto pedido pelo professor... bom... o meu texto eu faço no fim de semana já que ele não vai receber hoje mesmo hehehe.

Até amanhã!! \O/

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Olimpíadas 2008

Lu na China

Lúcia Anderson, uma jovem blogueira e aventureira foi trabalhar em Beijing e conta suas descobertas do mundo olímpico chinês, no blog Lu na China.

Lúcia descreve os bastidores da Vila Olímpica divulgando a rotina dos atletas, os inúmeros privilégios e cortejos que eles recebem, o esquema de segurança, as disparidades entre os restaurantes dos esportistas e o destinado aos voluntários. Tudo isso com exclusividade de uma voluntária brasileira "infiltrada”.

A blogueira tem acesso especial a localidades da Vila Olímpica onde nem mesmo os renomados jornalistas podem entrar. Ela circula pelos prédios das delegações, entra nos dormitórios dos atletas, conversa com eles e inclusive encontra, por acaso, o jogador da seleção brasileira, Ronaldinho Gaúcho, que até combina de “sair” com a jovem.

O Lu na China também traz fatos curiosos sobre o universo chinês. Um exemplo são as caixas de som em formatos de pedras distribuídas pelos jardins da Vila Olímpica, ou mesmo revistas difíceis de encontrar como "playboys" de chinesas e a disseminação do número 666, que para nós é o número da besta para eles representa sorte.


Vale a pena visitar o blog! Ele é recheado de imagens, tiradas pela própria Lúcia Anderson, e contam com leves textos. Além do mais, é um bom começo para quem quer conhecer melhor o outro lado do mundo, pois Lúcia promete continuar com os posts mesmo com o fim dos Jogos Olímpicos!



Olimpíadas 2008

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Mafalda


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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Contraponto

Para quem acompanha a problemática de Marcelo Coelho...

A reportagem referente a morte do herói estadunidense Capitão América publicada no Contraponto, jornal-laboratório da PUC-SP, pág. 9 edição 52, e posteriormente postado neste blog, foi comentada pelo ombudsman do veículo, editor-chefe do portal Observatório da Imprensa e professor por 26 anos da PUC, Luiz Egypto.

Segue comentário: "Matéria muito boa, angulação inusitada. Mas, no texto, o título “Guerra Civil” deveria vir com uma diferenciação gráfica, entre aspas ou em itálico. O que diz o Manual de Redação do CP?".

quarta-feira, 16 de julho de 2008

“Se [Barack] Obama for presidente, ainda chamaremos isso de Casa Branca?”.

Como as campanhas eleitorais americanas não estão conseguindo transcender a questão do racismo e do preconceito.

“Se [Barack] Obama for presidente, ainda chamaremos isso de Casa Branca?”. Essa frase, divulgada na internet e atribuída ao comerciante Jonathan Alcox de Houston que confeccionava broches com inscrições racistas, denota como a inevitável questão de raça impregna-se nas eleições estadunidenses deste ano. Mesmo com a intenção de Obama em tecer uma campanha que transcenda a raça.

Um dos primeiros focos preconceituosos veio com a infeliz relação com seu pastor Jeremiah Wright mantida por vinte anos, cujos sermões racistas custaram muito a Obama nas eleições primárias contra Hillary Clinton e que colocou a questão racial nas manchetes do pleito eleitoral.

Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial em seminário sobre “O Fenômeno Obama” no centro de estudos da FAAP, declarou que “a grande favorita no começo da campanha, Hillary, utilizava ressentimentos racistas para fortalecer o apoio a ela entre brancos pobres nas primárias dos Estados de Ohio, Pensilvânia, Indiana e West Virginia”.

O senador democrata Barack Obama é o primeiro negro candidato à presidência dos Estados Unidos por um grande partido. Obama venceu nas primárias sua concorrente Hillary Clinton à indicação, pelo Partido Democrata, à presidência americana.

Durante sua empreitada até a vitória, Obama teve - e ainda terá nas eleições gerais que decidirão efetivamente o presidente americano - dificuldades de atrair o principal eleitorado democrata: os brancos da classe trabalhadora. Boa parte deles são simpatizantes de Hillary, os quais Obama terá que cooptar para ganhar do candidato republicano à Casa Branca, John McCain.

Diante desse quadro, Obama terá que decidir se Hillary Clinton, cujo apoio já ofereceu em discurso legitimado, ocupará a vaga de vice-presidente na chapa do democrata. A ex-primeira dama, resolveria o problema de Obama com três eleitorados: feminino, latino e operário branco. O senador, no entanto, terá que esquecer as pelejas de campanha.

O ex-presidente Jimmy Carter e o senador Ted Kennedy, simpatizantes de Obama e também democratas, crêem que a idéia de ter Hillary na chapa atrapalharia mais do que ajudaria. Obama sofreria com a ambição que paira sobre a imagem do cônjuge de Hillary Clinton o ex-presidente Bill Clinton. Tal ambição deveu-se ao desejo incontrolável de Clinton a reeleição: “É impossível considerar-se a conduta ordinária dos negócios nos Estados Unidos sem perceber que o desejo de ser reeleito domina o pensamento do presidente; que toda a política de sua administração tende para isso; que suas mínimas providências são subordinadas a esse objetivo; que à medida que se aproxima o momento da crise, o interesse individual substitui em seu espírito, o interesse geral”, frase feita sob medida não só para Clinton como para os demais políticos do globo de Aléxis de Tocqueville, em 1835.

Em contrapartida, há a cotação de John Edwards para a vice-presidência da chapa democrata, a fim de ajudar Obama a conquistar o operariado branco. Edwards, que também participou da disputa este ano e apoiou Obama em maio, defende a luta contra a pobreza no país e, em tese, poderia atrair o voto do trabalhador branco.

Durante as primárias e após vitória, Obama iniciou viagens por redutos republicanos e de maioria branca para angariar eleitores desse setor, já que a maioria negra votará consubstancialmente no democrata.

O candidato à presidência visitou lugares em que a simples chegada de uma caravana é momento importante na história de comunidades brancas e negras, as quais empregam suas forças para a disseminação da luta contra o racismo, direito a liberdade e o respeito aos direitos do indivíduo como fundamentais ao ser humano.

Barack Obama conquistará os setores que antes o discriminavam inspirando muitos americanos a participarem da política. Assim a democracia tornará-se forte e vibrante. Ela florescerá a partir das boas leis, da diminuição do preconceito, do repúdio geral ao racismo e ao sexismo, não somente da força bélica, e mais ainda, dos hábitos, costumes e das crenças.

Barack Obama versus John McCain: muita divergência e poucas propostas

Terminada a primária dos dois principais partidos americanos: democrata e republicano, a briga, agora, será pelos votos do colégio eleitoral, que definirá o vencedor das eleições presidências no dia 4 de novembro.

A disputa se acentuou muito mais para propagandas negativas como as divergências e pontosBarack Obama fracos dos dois candidatos do que para as propostas claras e diretas do que ambos planejam fazer para conquistarem o cargo da presidência.

Barack Obama lança anúncios que identificam John McCain com um terceiro mandato de George W. Bush, tentando destruir a imagem do republicano de ser um político independente. Fato intensifica-se com o lançamento do livro “O que aconteceu por dentro da Casa Branca de Bush e da Cultura de enganação de Washington” (traduzido) livro do porta-voz americano Scott Mcclellan denuncia as mentiras que Bush projetou para justificar a decisão de invadir o Iraque. A polêmica pode prejudicar ainda mais o senador McCain, que tem lanços com o atual presidente.

A idade e saúde frágil de McCain também estão sendo alvos para prejudicar suas campanhas. Os democratas empregam a estratégia de usar sublinarmente a idade de 71 anos de McCain para desprestigiá-lo e induzir que este tem idéias retrógradas incompatíveis com o futuro de mudança que necessita o povo americano.

Já McCain retribui o gesto e assemelha a candidatura de Obama com um segundo mandato do ex-presidente Jimmy Carter - governou os EUA de 1977 a 1981 e é considerado por muitos americanos como um dos piores presidentes da história do país. Além de insinuar que Obama seria um mulçumano antipatriótico e inexperiente e ingênuo no que tange assuntos de política externa.

McCain também acusa Obama de querer se esforçar para parecer mais conservador do que realmente é em Estados como Virgínia Ocidental. Maquiavel, grande pensador italiano diria que esse tipo de atitude é importante “não é necessário a um príncipe ter todas as qualidades, mas é indispensável que pareça tê-las”.

Ademais, Tocqueville, em 1835, já ditaria a práxis do governo americano e dos demais: “o presidente dos Estados Unidos nada mais é do que dócil instrumento nas mãos da maioria. Ama o que ela ama, odeia o que ela odeia; precipita-se para adivinhar suas vontades, prevê suas queixas, inclina-se ante seus menores desejos”.

Diante dessa disputa conturbada lampejam algumas propostas de governo. Para Obama o tema prioritário de sua campanha será a economia. O objetivo é denunciar o preço recorde atingido pela gasolina e a brusca elevação da taxa de desemprego nos EUA, acabar com a guerra no Iraque, combater a crise das hipotecas e o crescimento vertiginoso do déficit público americano.

Já McCain detalhou um plano econômico para rebater Obama. O republicano prometeu manter a isenção de impostos para os mais ricos – herança de Bush – e afirmou que reduzirá tributos para empresas e trabalhadores de classe média.

(Escrito dia 20/06/2008)

terça-feira, 15 de julho de 2008

A LUTA PELO DIPLOMA

Jornalistas fazem advertência

em Manifesto à Nação

“A sociedade brasileira está ameaçada numa de suas mais expressivas conquistas: o direito à informação independente e plural, condição indispensável para a verdadeira democracia.” Assim começa o Manifesto à Nação, lançado pela Fenaj em defesa da formação superior para o exercício da profissão de jornalista. O Supremo Tribunal Federal está prestes a julgar o Recurso Extraordinário que, se aprovado, vai desregulamentar a profissão porque elimina a obrigatoriedade do diploma para o seu exercício.

O documento alerta que a decisão provocará a queda da qualidade do Jornalismo por permitir que qualquer pessoa, mesmo a que não tenha concluído nem o ensino fundamental, exerça atividades jornalísticas. “A exigência da formação superior é uma conquista histórica dos jornalistas e da sociedade, que modificou a qualidade do Jornalismo brasileiro”, destaca. Lembra que a regulamentação da profissão ocorreu há 70 anos e a criação dos Cursos de Jornalismo há mais de 40 anos e adverte: “Os brasileiros e, neste momento específico, os Ministros do STF, não podem permitir que se volte a um período obscuro em que existiam donos absolutos e algozes das consciências dos jornalistas e, por conseqüência, de todos os cidadãos!”

A íntegra do Manifesto:

Manifesto à Nação

Em defesa do Jornalismo, da Sociedade e da Democracia no Brasil


A sociedade brasileira está ameaçada numa de suas mais expressivas conquistas: o direito à informação independente e plural, condição indispensável para a verdadeira democracia.

O Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a julgar o Recurso Extraordinário (RE) 511961 que, se aprovado, vai desregulamentar a profissão de jornalista, porque elimina um dos seus pilares: a obrigatoriedade do diploma em Curso Superior de Jornalismo para o seu exercício. Vai tornar possível que qualquer pessoa, mesmo a que não tenha concluído nem o ensino fundamental, exerça as atividades jornalísticas.

A exigência da formação superior é uma conquista histórica dos jornalistas e da sociedade, que modificou profundamente a qualidade do Jornalismo brasileiro.

Depois de 70 anos da regulamentação da profissão e mais de 40 anos de criação dos Cursos de Jornalismo, derrubar este requisito à prática profissional significará retrocesso a um tempo em que o acesso ao exercício do Jornalismo dependia de relações de apadrinhamentos e interesses outros que não o do real compromisso com a função social da mídia.

É direito da sociedade receber informação apurada por profissionais com formação teórica, técnica e ética, capacitados a exercer um jornalismo que efetivamente dê visibilidade pública aos fatos, debates, versões e opiniões contemporâneas. Os brasileiros merecem um jornalista que seja, de fato e de direito, profissional, que esteja em constante aperfeiçoamento e que assuma responsabilidades no cumprimento de seu papel social.

É falacioso o argumento de que a obrigatoriedade do diploma ameaça as liberdades de expressão e de imprensa, como apregoam os que tentam derrubá-la. A profissão regulamentada não é impedimento para que pessoas – especialistas, notáveis ou anônimos – se expressem por meio dos veículos de comunicação. O exercício profissional do Jornalismo é, na verdade, a garantia de que a diversidade de pensamento e opinião presentes na sociedade esteja também presente na mídia.

A manutenção da exigência de formação de nível superior específica para o exercício da profissão, portanto, representa um avanço no difícil equilíbrio entre interesses privados e o direito da sociedade à informação livre, plural e democrática.

Não apenas a categoria dos jornalistas, mas toda a Nação perderá se o poder de decidir quem pode ou não exercer a profissão no país ficar nas mãos destes interesses particulares. Os brasileiros e, neste momento específico, os Ministros do STF, não podem permitir que se volte a um período obscuro em que existiam donos absolutos e algozes das consciências dos jornalistas e, por conseqüência, de todos os cidadãos!

Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas

Sindicatos de Jornalistas de todo o Brasil



Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro

http://www.jornalistas.org.br/

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Marina Silva deixa o Ministério do Meio Ambiente

Ministra pede afastamento. A causa é desgaste na gestão

-Trajetória política

Maria Osmarina Silva de Souza Vaz de Lima, que adotou o nome de Marina Silva, nasceu em 8 de fevereiro de 1958, no Seringal Bagaço (Acre).

Órfã de mãe aos 16, mudou-se para Rio Branco, em 1974, a fim de se tratar de uma hepatite e, posteriormente, realizar supletivo para concluir o ensino médio e cursar o ensino superior. Já que em Seringal Bagaço, a 70 km de Rio Branco, onde nasceu, não havia escolas.

Marina Silva trocou o sonho de ser freira pela militância política, na ocasião em que começou a atuar nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ligadas principalmente à Igreja Católica que, incentivadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), se espalharam principalmente nos anos 70 e 80 no Brasil, durante a luta contra a ditadura militar.

Marina formou-se em História pela Universidade Federal do Acre, em 1985 aos 26 anos, data em que também se filiou ao PT (Partido dos Trabalhadores) e lançou sua candidatura para ajudar o líder seringueiro, sindicalista e ativista ambiental Chico Mendes, morto em 1988, que era candidato a deputado estadual. Apesar de ambos estarem entre os cinco mais votados nenhum dos dois se elegeram.

Durante os estudos na universidade, ingressou no Partido Revolucionário Comunista (PRC), organização semi-clandestina que fazia oposição ao regime militar. Em 1984, junto com Chico Mendes, Marina Silva funda a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.

Após concluir o ensino superior, Marina Silva começou a lecionar história e a participar do movimento sindical dos professores. Em 1988, foi eleita vereadora mais votada de Rio Branco, capital do seu estado.

Após dois anos, foi eleita deputada estadual, novamente a mais votada. Em 1994, aos 35 anos, chegou ao Senado Federal como a mais jovem senadora do Brasil, sendo reeleita em 2002. Finalmente, em 2003, é nomeada ministra do Meio Ambiente pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva. Agora, em 2008, ela pediu demissão do ministério.

- Saída de Marina Silva

No dia 13 de maio de 2008, Marina Silva entrega sua carta de demissão, do cargo de Ministra de Estado do Meio Ambiente, ao presidente Lula. A ex-ministra declara:

- Deixo seu governo [Lula] com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo relacionamento, termos feito algo de relevante para o Brasil.

Com ela deixam à cúpula do ministério dois auxiliares de sua extrema confiança: Basileu Aparecido, chefe de gabinete de Marina e presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Meio Ambiente e presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.

Segundo a ex-ministra, ela vinha colecionando desafetos na Esplanada dos Ministérios e perdendo mais batalhas do que conquistou nesses quase 5 anos e meio na função. Marina Silva conta:

- Esta decisão [de deixar o cargo] decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.

Marina teve embates recentes com a colega Dilma Roussef, da Casa Civil, devido a obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a construção de duas usinas no Rio Madeira: Jirau e Santo Antônio. A ex-ministra se viu pressionada por Dilma para liberar licenças ambientais favoráveis à edificação das hidrelétricas, mas ela se mostrou contra a implementação destas em solo amazônico.

Ela também bateu de frente com Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, que defendia a autorização da produção de transgênicos. Marina combate a liberação de milho e soja geneticamente modificados, mas se viu derrotada na reunião para liberar o plantio e comércio destes logo no início do governo.

O desgaste também se deu com o Agronegócio e com Reinhold Stephanes, atual ministro da Agricultura, que discordava de Marina sobre transgênicos e batia de frente com o ministério por não aceitar o diagnóstico de que o agronegócio era responsável pelo avanço do desmatamento.

Lula também não escapou das criticas da ex-ministra, acerca da produção de etanol. Apesar do entusiasmo do presidente com os biocombustíveis, Marina teme o avanço da cana sobre a lavoura de alimentos e áreas de preservação ambiental. Ela declarou que:

- O Brasil não quer ser a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] dos biocombustíveis. Queremos dar nossa contribuição em relação aos biocombustíveis, mas observando nossa capacidade de suporte. E de forma que não comprometa a segurança alimentar nem a questão ambiental.

Quem mais ganha com a renúncia da ministra são as obras para a transposição do Rio São Francisco: Marina exigia mais estudos ambientais para as obras, apoiadas pelo deputado Ciro Gomes (CE). Sérgio Cabral e o PMDB também ganham com essa abnegação. Apesar de o secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, ser do PV, para Cabral é mais um nome do Estado no Planalto (o outro é José Gomes Temporão, na Saúde).

O estopim para Marina pedir sua demissão foi à nomeação, pelo presidente Lula, de Mangabeira Unger, ministro da Secretaria de Ações de Longo Prazo, para coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Marina se sentiu desprestigiada pelo presidente por não ser a responsável por chefiar o conselho gestor do PAS, que teria como prioridade garantir a proteção ambiental da região amazônica.

Marina Silva retorna ao Senado no lugar de Sibá Machado, também do PT do Acre, para reassumir o mandato que termina em 1º de janeiro de 2011. Ela também passou a ser, no dia 08 de junho, colunista do jornal Folha de S. Paulo.

-Comunidade Internacional

Durante mais de 5 anos, a senadora Marina Silva angariou prestígio frente a comunidade internacional. Assim seu pedido de afastamento do cargo de ministra denota um forte impacto para o governo Lula no que tange a preservação ambiental ao olhar estrangeiro.

Scott Paul, diretor do programa de florestas do Greenpeace avalia que “do ponto de vista internacional, a demissão de Marina do ministério é muito preocupante e prejudica a credibilidade do governo Lula na questão da defesa do meio ambiente”. “A demissão simboliza que o governo não vai mais dar prioridade para a agenda ambiental no País.”

Para o jornalista e editor do site O Eco, Marcos Sá Corrêa, o afastamento de Marina não será tão nebuloso, já que “ela já estava meio fora da equipe”. No entanto, é longe do Brasil, no exterior, que Marina Silva fará falta. “Sem ela, o presidente Lula perde a última ficha para freqüentar mesas de quem aposta no futuro da floresta.”

“A notícia caiu como uma bomba. Ter uma pessoa como a Marina era ter fiador do processo. Estamos preocupados que isso vire para o lado do “liberou geral”, porque é isso, no fundo, o que se pensa no governo” afirma Mário Mantovani, diretor da Ong SOS Mata Atlântica.

O portal de rádio britânico BBC, destacou o fato de Marina ter deixado o cargo como uma postura crítica ao governo. A rádio declara que sua saída tende a aumentar a “percepção de que o presidente Lula está mais preocupado com o desenvolvimento econômico do que com a conservação [ambiental]”.

É do lado de fora que a saída de Marina causará maior impacto para a imagem externa do governo Lula. Ambientalistas a consideram a avalista da seriedade do País no setor. O governo terá que tomar medidas ousadas para provar que continua comprometido com a questão ambiental, pois com Marina o desmatamento caiu 60% em 3 anos.

Escrito dia 18/06

domingo, 13 de julho de 2008

Os reflexos do neocolonialismo na gastronomia africana


Como a partilha da África pelos neocolonialistas influenciou a culinária do continente.

O continente africano, nos séculos XIX e XX, sofreu com a chamada partilha afro-asiática proporcionada pelo neocolonialismo. Tal processo deveu-se ao grande desenvolvimento econômico europeu que necessitava de mercados consumidores e fornecedores de produtos e matérias-primas.

Essa carência resultou na utilização dos nativos africanos a fim de enriquecerem as metrópoles colonizadoras nos empreendimentos econômicos como no setor industrial, comercial e agrário. A preocupação civilizadora foi esquecida e a população africana foi deixada à própria sorte.

Todas esses fatos servem para ajudar a explicar o motivo pelo qual o continente africano carece de culinária típica que identifique a cultura dessa região. Até porque é pouco provável que haja uma gastronomia voltada para todo o continente devido às suas enormes dimensões, tanto geográficas como humanas. Mas o questionamento é como a arte da culinária característica dessa região perdeu-se ao longo da história.

Os africanos, como os povos dos restantes continentes, receberam alimentos das regiões européias e inglesas, durante o período do neocolonialismo, que incorporaram na sua dieta, assim como as próprias técnicas culinárias.

No norte da África, regiões da Etiópia e norte do Sudão, habituou-se o cultivo do trigo, tal culinária adquiriu o nome de mediterrânea. Já na África subsariana, onde, em geral, não é o trigo, mas outros vegetais farináceos, que contêm amido, que constituem a base da alimentação dessa região.

Nessas duas localidades e em várias regiões da África, a grande produtividade de arroz e batata produzidos a fim de abastecer o mercado do colonizador estrangeiro aclimataram-se bem no solo africano e, atualmente, pode se dizer que metade das refeições dos nativos têm esses vegetais como fonte de energia.
Já na África austral e oriental, principalmente junto à costa, é o milho, moído em grandes pilões ou nas modernas moagens, que serve para fazer o substrato da culilnária africana. Nas regiões mais afastadas da costa, é o sorgo o cereal indígena que cumpre este papel, enquanto que na África ocidental é o “fufu”, comida feita com amendoim, azeite, banana-da-terra ou mandioca (das regiões mais secas) a base da alimentação.

Uma refeição “tipicamente africana” é formada por um grande prato de arroz ou massa dos vegetais farináceos, que é normalmente dividido criteriosamente pelos membros do agregado familiar, e uma panela com um guisado ou uma salada que acompanha um peixe ou naco de carne grelhada, mas nada que denote tal prato como típico da população da África.

Em síntese, a gastronomia africana perdeu, em partes, sua identidade de identificar a cultura do povo africano. Muito disso, proporcionado pelos conquistadores estrangeiros preocupados com a partilha dos recursos naturais do continente. No entanto, isso não desprestigia pratos maravilhosos reinventados por eles. Aliás, uma das heranças mais importantes da inserção dos negros na sociedade brasileira está na gastronomia.

sábado, 12 de julho de 2008

A meses das Olimpíadas, movimentos pró-tibete demonstram lado desumano da China

Manifestações apontam como a ditadura chinesa trata os tibetanos e o seu próprio povo, além de utilizar os Jogos Olímpicos como propaganda política.

Adriana Farias
Natália Senóbio
Paula Salati

Na véspera dos Jogos Olímpicos, a China enfrenta constantes ondas de protestos levantadas por budistas e ativistas dos direitos humanos. As manifestações começaram no dia 10 de março, como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata lembrando o 49ª aniversário do fracassado levante tibetano contra o domínio chinês, que levou o 14º Dalai Lama ao exílio, na Índia.

Os conflitos entre chineses e tibetanos originaram-se em 1949, ano em que o Tibete, incorporado à China comunista de Mao Tse Tung, vivenciou o desrespeito aos seus direitos humanos, a cultura e a religião. O ex-secretário do Partido Comunista, Hu Yaobang, chegou mesmo a admitir em 1980, que os padrões de vida dos tibetanos haviam declinado desde os anos cinqüenta e que a presença chinesa na região era um obstáculo ao desenvolvimento. No entanto, para os chineses, o Tibete foi liberado de sua situação de extrema pobreza e, atualmente, desfruta de crescimento e progresso social.

Diante desse quadro, parte da população tibetana, que não enxerga resultados no discurso pacifista de Dalai Lama, proclama não só pelo respeito aos direitos humanos, mas também por uma desvinculação do governo chinês, ou seja, uma independência territorial. Contudo, o próprio líder budista abandonou a reivindicação de independência, adotando uma política mais moderada de autonomia.

Para Valério Arcary, historiador socialista e dirigente do PSTU, “todos os povos têm o direito, se assim entenderem, a procurar um caminho de autodeterminação e no limite de independência. Existirá uma nação quando o povo achar que é uma, assim o processo será democrático. Mas, se eu fosse tibetano seria contra a independência territorial, porque não é economicamente viável. (...) Voltar ao pré-capitalismo e ao encerramento em fronteiras nacionais é, por um lado, condenar as sociedades que escolheram esse caminho ao atraso, significando a ante-sala da guerra.”

O apoio internacional ao Tibete tem se manifestado em vários países durante o percurso da tocha olímpica, como nos Estados Unidos (EUA) e na Europa. O boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim é promovido tanto por adeptos do budismo, inconformados com a proibição desta em território tibetano, quanto por ativistas políticos indignados com a falta de liberdade religiosa e de expressão. "Há milhares de presos no Tibete, o que é inaceitável. Todo mundo sabe que na China há uma ditadura, um regime totalitário que é um dos mais monstruosos que existe hoje no planeta”, diz Arcary.

Para o historiador, “boicotar os jogos não parece o melhor a ser feito. A melhor tática seria ir lá e denunciar o regime ditatorial, quando os olhos do mundo estiverem dentro da China. (...) O país é o inferno dos trabalhadores. As condições de vida são atrozes e a existência dessa ditadura encarcera seu próprio povo e o transforma em mão de obra barata para os investimentos que japoneses e norte-americanos fazem na China. Disso poucos sabem e a China é mostrada como o exemplo do mundo e continuará transmitindo isso na ocasião das Olimpíadas”.

Não é a primeira vez que os Jogos Olímpicos são utilizados como plataforma política. As Olimpíadas de 1936, em Berlim, serviram como um festival de louvor ao regime nazista. Hitler usou-os para provar a supremacia da raça ariana. A tocha olímpica passou por Tessalônica, Grécia, Bulgária e entre outros, indicando os locais que o Füher almejava conquistar.

No período da Guerra Fria, a União Soviética e os EUA fizeram das Olimpíadas o apogeu do apeloProstestos pró-tibete serão silenciados político. Em Moscou (1980), o presidente norte-americano, Jimmy Carter, anunciou um boicote aos jogos, alegando protesto contra as invasões soviéticas no Afeganistão. Já em Los Angeles (1984), os soviéticos retribuíram o boicote afirmando que as autoridades norte-americanas faziam dos jogos uma arena política e não garantiam a segurança de seus atletas.

A China, por sua vez, vê em 2008, uma oportunidade de demonstrar mundialmente a sua capacidade de sediar e organizar um evento global, além de polir sua imagem de grande potência econômica. Até mesmo o percurso da tocha apresenta uma natureza política ao atingir o pico do Monte Everest invocando glória e denotando poder passando por Taiwan, província rebelada.

O historiador completa afirmando que "Os chineses estão muito preocupados com a imagem externa, pois é uma operação de propaganda para despertar a simpatia. Mas o governo chinês, por enquanto, ainda se beneficia do fato de que a imprensa e a mídia mundial silenciam sobre as condições de vida do povo chinês”.

Aliança China - EUA

Segundo Arcary, “a relação China e EUA é extremamente complementar, mas não é uma relação de iguais. Há três correntes de opiniões sobre isso.”

Há uma primeira corrente muito minoritária nos Estados Unidos e marginal fora deles, que afirma que a China será uma das potências a disputar a liderança do sistema internacional de estados e terá um lugar central no mercado mundial nas próximas décadas.

A segunda corrente afirma que a China é basicamente uma colônia dos EUA, ou seja, o desenvolvimento chinês com a restauração capitalista que começou no final dos anos 70, com as “Quatro modernizações” de Deng Xiaoping é um crescimento econômico de uma colônia privilegiada que garante o abastecimento das demandas do mercado norte-americano.

Há uma terceira tendência nas relações internacionais que afirma que a China não vai se transformar numa potência imperial, e também não vai ser uma colônia, é uma posição intermediária. A terceira hipótese, portanto, trabalha com a idéia da China ser um estado independente dentro de um sistema mundial muito contraditório.

Para Arcary, “a segunda corrente é a mais razoável, pois a primeira hipótese, de que a China se transforme numa potência central, é completamente implausível. Isso nunca aconteceu sem guerra. Já a terceira hipótese, que lida com a China independente, não há futuro para isso. Há muito poucos estados independentes, como o Irã e Cuba e estão muito ameaçados, porque o governo dos Estados Unidos tem uma mania de identificar que todos os estados independentes são o Eixo do Mal.”

Reportagem publicada na edição 52, mês de abril pág.14, do jornal-laboratório da PUC - SP, Contraponto.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A morte de uma sociedade

Como o assassinato do herói Capitão América personifica o declínio dos ideais estadunidenses

Adriana Farias
João Villaverde

No final do ano passado, o personagem Capitão América foi assassinado, no último capítulo da saga Guerra Civil. Mais do que a morte de um super-herói, a morte da personagem representou o fim de um símbolo que não faz mais sentido na sociedade norte-americana de hoje. A análise é do editor da Marvel Comics, Joe Quesada.

Criado no final de 1941, na mesma época em que os Estados Unidos entravam na Segunda Guerra Mundial, o personagem vestia as cores da bandeira de seu país e na capa de sua primeira edição aparecia nocauteando o nazista Adolf Hitler. O Capitão refletia assim a determinada situação sócio-econômica da época. Era a síntese da ideologia militarista norte-americana: um herói intervencionista, que toma a justiça pelas próprias mãos contra governos estrangeiros que representariam o mal e sua única arma, um escudo, representaria a idéia de que o governo dos EUA só ataca para se defender, é a polêmica da “guerra pela paz”.

Com o tempo, o Capitão América foi considerado imperialista e mentor de uma “propaganda ideológica” sempre a favor dos Eua, ainda mais com a desaprovação, por parte da população, da invasão americana ao Vietnã, paralelamente, cresceu a antipatia contra os norte-americanos, e atualmente contra o governo Bush.

O então escritor, John Ney Rieber, mais pacifista, queria publicar um Capitão América mais voltado para si e questionando os valores do “modo de vida americano” (american way of life), já que para ele essa história de “guerra pela paz” não se justificava, pois a verdadeira causa do terrorismo é o militarismo norte-americano.

Tendenciando para este lado, Rieber mostra numa edição da Marvel de 2002, o Capitão América defendendo um nova-iorquino descendente de árabes de um ataque de exaltados xenófobos norte-americanos. Além disso, Rieber elabora uma saga, na qual mostra que as armas de alta tecnologia usadas pelos terroristas foram de fabricação norte-americana e que o terrorismo é conseqüência de um outro tipo de terror, plantado pelos próprios estadunidenses, criticando de maneira enfática a indústria da guerra como política de Estado, arrebentando o orçamento com gastos bélicos. Além de apontar em várias histórias o remorso do Capitão América com as barbaridades que os militares norte-americanos fizeram ao redor do mundo e pôr o “sonho americano” em questionamento.

Antes que mais danos pudessem ser feitos por Rieber contra a “imagem americana”, Joe Quesada passou a interferir diretamente nos roteiros, incentivando a saída de Rieber que afirmou à época estar escrevendo um Capitão América diferente do requerido pela Marvel.

Concomitantemente a isso, começa a invasão dos EUA ao Iraque (fevereiro de 2003) potencializando de vez a saída de Rieber, uma vez que seus roteiros de um Capitão América mais questionador não caberiam para aquela situação do país. Nesse processo, a Marvel preferiu, de início, ficar em silêncio perante a invasão ao Iraque, mesmo com boa parte da opinião pública pedindo engajamento explícito e declarado por parte do herói. O personagem foi acusado por fãs de ser traidor e desertor.

Hoje, os estadunidenses passam por uma nova fase histórica de caráter mais bélico e xenófobo, com a população ora defendendo ora repugnando a invasão do Iraque. Nessa conjuntura, o Capitão América não conseguiu acompanhar essa consciência ambivalente dos norte-americanos, servindo como pano de fundo para a morte do herói-símbolo do país.

Segundo Paulo França, editor Panini/Marvel, a morte do Capitão refletiu não só a mudança na sociedade americana, mas também, obviamente, uma estratégia de marketing para reerguer as vendagens do herói. No contexto dos quadrinhos Marvel, a morte do “sentinela da liberdade” (como era apelidado) refletiu-se quando ele não quis aceitar uma lei de registro proposta pelo governo que regulamentava os super-heróis e, conseqüentemente, os mantinham na mão do governo. “A idéia é essa o governo americano controlando todos esses heróis para agirem ao mando deles, isso iria causar um tremendo desequilíbrio no governo mundial. Em vez do herói simplesmente salvar a mulher que está sendo assaltada, de repente o governo vai querer mandá-lo para o Iraque cuidar dos interesses próprios do governo. Em cima disso tudo, reflete um contexto político bem forte”.

Jorge Rodrigues, assessor da Fest Comix e diretor comercial da Comix, completa dizendo que “o Capitão América defendia a liberdade e a Justiça, e rompeu com o governo ao se dar conta de que este lutava por interesses próprios.”


Guerra Civil

A história que levou ao assassinato do Capitão América se desenvolveu na saga Guerra Civil, publicada em 2007 pela Marvel Comics, nos Estados Unidos. O enredo traz o personagem Homem de Ferro querendo reorganizar a maneira como os super-heróis agem, como uma forma de manter todo o poder em suas mãos. Sua proposta era apoiada ideológica e financeiramente pelo governo dos EUA. O Capitão América de início se colocou contra esse pensamento, numa atitude que o deixou rival do Estado. “De uma certa forma, é a maneira dos quadrinhos de colocar essa idéia da sociedade americana de querer dominar o mundo, de fazer as coisas da maneira deles, de se for preciso, invadir um país para resolver interesses próprios”, afirmou Jorge Rodrigues, da Comix Shop.
O governo colocou em plebiscito a lei de registro dos super-heróis, com o Homem de Ferro funcionando como cabo eleitoral do voto favorável à emenda. A população votou à favor da regulamentação, e o Capitão América se manteve contrário a idéia de heróis “chapa-branca” do governo. Segundo Paulo França, encarregado da publicação dos títulos da Marvel no Brasil, “todas essas agências governamentais são meio podres por dentro, então é complicado tornar todo mundo funcionário do governo”. “Foi uma forma de mostrar que o governo dos EUA não está necessariamente seguindo o que o povo quer, e que nem sempre aquilo que o povo escolhe é o melhor a ser feito. O Capitão América, o símbolo dos EUA e da democracia pensou de uma forma “não democrática” – por ir contra os anseios da sociedade – e se tornou o inimigo número um da América”. E acabou assassinado no capítulo final de Guerra Civil.

Reportagem publicada na edição 52, mês de abril pág.9, do jornal-laboratório da PUC - SP, Contraponto.