sábado, 11 de outubro de 2008

Maria Inês Nassif na PUC/SP


A jornalista Maria Inês Nassif, irmã de Luis Nassif, comentarista econômico da TV Cultura, é editora de Opinião do jornal O Valor Econômico e esteve no dia 6 de outubro, às 21h 30min, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para um debate com os alunos do primeiro ano, do curso de jornalismo. Neste bate-papo, Maria Inês falou, entre outros fatos, sobre sua trajetória profissional no campo da política e da economia. Contou suas emoções, decepções e conflitos no jornalismo, além de explicar o sentido de ser jornalista no século XXI.

PUC/SP - Conte-nos um pouco sobre seu rumo profissional?
Maria Inês Nassif - Eu morei um bom tempo em Brasília. Trabalhei na agência Dinheiro Vivo, nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, pena que hoje ele esteja tão descaracterizado. Passei por todos os grandes jornais do país.

PUC/SP – Como a sra. decidiu que a sua profissão seria o jornalismo?
Maria Inês Nassif – Fiz jornalismo por causa da insistência da minha mãe, o que eu queria era Ciências Sociais. Mas o jornalismo acabou me conquistando muito mais pela prática do que pela universidade. Eu me formei na Cásper Líbero, o curso era terrível, fiz uma faculdade péssima. Mais tarde fiz pós-graduação em Ciências Sócias aqui na PUC.

PUC/SP – Qual a sua relação com a carreira o que mais te marcou?
Maria Inês Nassif – Eu trabalho desde os 17 anos, era freelancer do jornal estudantil “Movimento”. Peguei o final da ditadura cobrindo política, presenciei a história e nada melhor do que registra-la de forma bem feita. A sensação de trabalhar para as gerações futuras, ver a história acontecendo e registrá-la, isso marcou minha vida.

PUC/SP – Na questão sobre o jornalismo na internet, a sra. acha que o jornal impresso está perdendo espaço? Como fica, especificamente, O Valor Econômico nessa situação?
Maria Inês Nassif –
Existe o conhecimento de que a informação democrática é mais barata, engloba mais gente e que ela chega mais rápido. Também existe a noção de que a linguagem do jornal não pode ser igual a da internet. Na estrutura do Valor, ele foi o jornal que mais se aproximou dessas questões. Como é um jornal que quase não tem competidor ele prioriza informação exclusiva, mais analítica, mais trabalhada e com uma informação mais redonda. Já a informação eletrônica do Valor é muito ruim. Ele precisa melhorar muito.
Os outros jornais competem muito por clipping. Tal competição impede que eles tenham uma linguagem e visão diferenciadas e mais trabalhadas.

PUC/SP – Qual a diferença editorial do Valor para os outros jornais como o Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo?
Maria Inês Nassif – O Estadão é conservador, a Folha é mais de esquerda. O Valor é mais progressista do que a visão dos sócios, não fazem oposição militante. São editores muito equilibrados, nem no campo da economia somos tão ortodoxos. A produção é pautada pela gerencia que decide tudo. Mas é um jornal plural que não cai em histerias como publicar manchetes do tipo “Brasil é o país mais corrupto do mundo”, “Impeachment já!”. O Valor é um jornal formador de opiniões e os anunciantes entendem assim.

PUC/SP – Como foi a transição da área de política para economia?
Maria Inês Nassif – O Brasil é muito diverso. A política é síntese das realidades sociais e das instituições que surgem. Há momentos em que você sente a história acontecendo, ali. É a área que você mais experimenta a história e os atores dela estão todos lá. Também segui pela política talvez pela cientista política que sou. No Estadão entrei na política fiscal, no Dinheiro Vivo escrevia sobre macro-economia e finanças mais porque fui obrigada, já que era sócia naquela época. Acabei fazendo mestrado em política com mercado financeiro. Fiz meu estudo sobre as Eleições em 2002 de Lula mediando as pressões do mercado. Foi quando consegui dar um sentido para isso tudo.

PUC/SP – Como é escrever n’O Valor Econômico?
Maria Inês Nassif – O espaço para escrever o que quiser é sonho de todo o jornalista. Na coluna do Valor eu tenho ampla liberdade que não teria em lugar nenhum, ela me dá mais satisfação. Eu creio que quando acabar o Valor eu vou estar fora do jornalismo. E jornalismo para mim é não ter que pedir licença para escrever.

PUC/SP – O que significa ser jornalista atualmente? Que tipo de mercado vamos encontrar?
Maria Inês Nassif – Hoje vocês são mais críticos. O jornalismo é um processo: o fim da ditadura coincidiu com a transformação dos jornais. A pós-ditadura excluiu os jornalistas mais politizados, por isso eles vivem numa crise causada pela posição política dos jornais. As famílias da elite foram jogadas para a direita quando acabou a aliança com as forças democráticas. Eles optaram pelo jornalismo do emprego e do salário.

PUC/SP – A sra. já teve algum conflito ético/profissional que te abalou?
Maria Inês Nassif –
Bom, eu até tive muita sorte com isso. Já tive problemas de um cara jogar o que eu escrevi no lixo, mas não era falta de ética. Na Folha de S. Paulo quiseram editar profundamente uma matéria minha, argumentando que o lide deveria conter isso e aquilo. Acho que isso foi o mais agressivo na minha área. Aí depois eu saí de lá.

PUC/SP – Qual foi a sua maior emoção no jornalismo?
Maria Inês Nassif –
Tive emoção para ruim. Foi na época da votação direta para presidente. Governo Militar. Os jornalistas choraram muito.
Já na posse de Lula, em janeiro de 2003, foi uma emoção boa. O povo ficou do lado de fora da Esplanada dos Ministérios e eu fui cobrir aquele momento não do lado de dentro mais do lado de fora com eles. Foi contagiante, as pessoas passaram a depositar todas as suas esperanças de futuro em Lula. No seu discurso, o mais marcante foi quando ele disse: “No meu governo todas as pessoas vão tomar café da manhã, almoçar e jantar”. Naquele instante existiu uma identidade, uma emoção coletiva contagiante.
Outro momento que marcou foi à morte de Tancredo Neves [presidente do Brasil pelo Colégio Eleitoral em 1985, mas não chegou a tomar posse do cargo], que deixou um sentimento de insegurança no país.

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